Aposte na Rússia, vale a pena!
Escrevo este artigo para a revista da Embaixada da Federação Russa em Portugal na véspera de Natal ortodoxa, época de Amor, Nascimento, Paz e Família. Daí aproveitar a oportunidade para, em nome pessoal e da CCILR - Câmara de Comércio e Indústria Luso-Russa, desejar um Ano 2020 com Prosperidade, Consensos e Harmonia para todo o Mundo e em especial para as comunidades Russas e Lusófonas.
Num contexto mundial complexo, as relações comerciais e de investimento entre Portugal e a Rússia revelam-se com potencial de crescimento, pois apesar do ponto de vista institucional e politico as relações serem muito boas, nenhum dos países ainda até ao momento viu o outro como uma prioridade no seu processo de exportação. Por exemplo, segundo o Eurostat 76% das exportações de Portugal destinam-se a outros países da União Europeia (EU) e nas importações o cenário é similar. Eventualmente, e apesar de a Rússia e Portugal procurarem vantagens mútuas no seu relacionamento - e desde 9 de Maio de 2019 a CCILR procura ser esse veiculo-, foram desenvolvidas ações e criados alguns mecanismos de cooperação na área dos negócios, empreendedorismo e inovação, digitalização, passando pela educação, cultura e ciência. Todavia, a meu ver, a presença de Portugal na OTAN e na União Europeia não pode ser, e não deve ser, a explicação para que o potencial entre ambos os países, que representam a porta de entrada, no caso da Rússia para os países da União Euro-asiática e no caso de Portugal para os países de língua oficial portuguesa, do fraco relacionamento comercial existente até ao ano anterior.
No último ano e através da CCILR verificámos um acréscimo das relações económicas entre ambos os países, apesar de ainda fraco, com um aumento de empresas portuguesas a participarem em feiras, missões empresariais e reuniões B2B na Rússia, bem como o inverso, empresas Russas da área das energias renováveis, da construção, da indústria automóvel que procuraram em Portugal parceiros de negócio e fornecedores qualificados, como nas áreas dos granitos e mármores, moldes, barragens, portos marítimos, entre outros. Recordo também na área da Inovação, onde organizamos em conjunto com a Embaixada da Federação Russa em Portugal a 2ª edição do Business Innovation Forum e juntámos cerca de 200 empresas, sendo metade Russas, startups com potencial e investidores que reconhecem as sinergias de ambos os países. Por isso os sinais para 2020 são otimistas!
Um indicador bastante positivo que as empresas portuguesas deverão ter em consideração está relacionado com o ambiente muito mais favorável na Rússia para os negócios. De acordo com o Banco Mundial, no seu estudo "Doing Business 2020" a Federação Russa tem a sua melhor posição de sempre: 28º, à frente de países que Portugal tem privilegiado nas exportações como Espanha (30º), China (31º), França (32º), Polónia (40º) e Itália (58º). Refira-se o trabalho e esforço que vem sendo implementado na última década. Em 2009 a Rússia estava na posição 120º, o ano passado na posição 31º. Isto demonstra que o mindset dos empresários portugueses em relação à Rússia se mudar beneficiará as empresas portuguesas. A Federação Russa é a 6ª maior economia do Mundo, com um GDP purchasing power parity de $4.2 triliões, quando a Alemanha tem $4.4 triliões-, e tem o GDP per capita maior dos BRICS, $29,267, tendo a China $18,120 e o Brasil $16,112, normalmente destinos privilegiados pelas empresas portuguesas.
Com o conhecimento que tenho da Rússia, e o ano passado só fiz 46 viagens a este país, a recomendação que deixo aos empresários portugueses é que procurem saber mais sobre este país, sobre o sector e o mercado onde as suas empresas atuam e a CCILR estará sempre disponível para os apoiar a realizarem negócios com a Rússia, apoiando e alertando para aspetos mais culturais, operacionais, como transportes e alojamento, formalidades de entrada no país e regime geral de importação, a língua, a segurança, feiras, eventos...
Um outro aspeto de elevada relevância e que se traduz numa oportunidade para as empresas portuguesas prende-se com a União Euro-Asiática (UEE), que foi iniciada em 2010 pela Rússia com a Bielorrússia e o Cazaquistão, que criou uma União Aduaneira que impôs às mercadorias provenientes de países terceiros a mesma pauta aduaneira comum (PAC) e que em 2015 foi alargada à Arménia e Quirguizistão. A UEE introduziu a livre circulação de bens, capitais, serviços e pessoas, estabelecendo políticas comuns na área macroeconómica, transportes, indústria, agricultura, energia, comércio exterior, investimentos e concorrência. Atualmente são países candidatos o Tajiquistão, o Uzbequistão, o Turquemenistão e a Moldávia, tendo esta última o estatuto de observador.
Uma área fundamental para a UEE é a cooperação económica, pelo que foram estabelecidos também acordos comerciais com outros países, tais como: Camboja, Egito, Índia, Irão, Marrocos, Paquistão, Tailândia, Tunísia e Vietname, o que na nossa perspetiva aumenta o potencial económico e a atratividade da Rússia como um destino económico.

Não sendo comparável, mas o momento que vivemos entre as relações económicas entre Portugal e a Rússia faz-me recordar o tempo em que com a morte de José I, a sua filha, Maria I torna-se rainha de Portugal em fevereiro de 1777 e liberta do pulso forte de Marquês de Pombal, ministro poderoso do seu pai, toma as suas primeiras decisões com um forte sentimento de mudança e é neste contexto que as relações diplomáticas com a Rússia são decisivas principalmente a partir de 1778, numa época em que algumas potencias europeias lideradas pela França aproveitando o facto de Inglaterra estar em guerra com as suas colónias americanas, que vêm depois a declarar independência, Portugal ganha consciência do interesse estratégico que a Rússia representa, procurando novos mercados e intensificando as relações económicas, não deixando os lucros a intermediários estrangeiros. Ora, o momento que vivemos atualmente pode ser para as empresas portuguesas uma oportunidade de reforçarem as suas exportações e as ligações de parceria com a Rússia, que para além do enorme mercado que representa em termos de consumidores, dá acesso a uma sociedade que apesar das dificuldades tem vindo a reforçar o seu poder de compra e a um país que procura privilegiar e respeitar as diferenças culturais procurando aprofundar as relações multilaterais com outros países, ação que saí reforçada pela criação da UEE e o seu dinamismo, bem como a influência politica e económica que a Rússia tem nesta União Económica que no futuro espera estabelecer uma moeda única e uma maior integração, operando através de instituições supranacionais e intergovernamentais.

Invista na Rússia, ficará a ganhar. Vai ver que valerá a pena. Pode contar com CCILR para ajudar a sua empresa. Um Bom Ano.
Bruno Valverde Cota, artigo publicado na Revista "Rússia" da Embaixada da Rússia em Portugal, jan. 2020.